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Black MC e Markinho ZN mostraram porque o rap paraense precisa de mais visibilidade


>Postado em: 19 mar 2024

Markinho ZN e Black MC foram os destaques do gênero hip hop na primeira edição do projeto Outros Nativos no Rap. O evento aconteceu no último dia 16 de março no bairro da Sacramenta, bem no centro da área das Malvinas, periferia de Belém. A praça Nossa Senhora de Guadalupe estava lotada de moradores das quebradas do chamado “Elo Perdido” para ver os artistas. Algumas pessoas assistiam de longe da sacada ou das janelas de suas casas, curtindo o som.

Os artistas representam duas gerações diferentes do hip hop. Com quase 40 anos de idade, Black MC, que também é conhecido como Tio Black, já trilhou uma árdua carreira no rap de periferia. Ele foi influenciado pelo grupo pioneiro do hip hop paraense, o MBGC, que atuou nos anos 1990. Ele tomou iniciativas de desenvolver festivais e mostras de rap em seu município: Ananindeua, onde mora até hoje.

E nessa trajetória, Black MC também aperfeiçoou a sua rima e a sua composição. Misturando ritmos e gêneros musicais ele inovou e criou um novo sub-gênero. Foi assim que ele chegou no trap no brega, uma música que mistura os elementos do novo rap com a batida do tecno melody. “Eu queria ter uma cara mais regional, incluir os elementos da minha terra no meu rap, tá lidado?!”, contou o artista durante a entrevista.

“Treme” a faixa título do seu novo EP, que foi aprovado pelo edital da Lei Paulo Gustavo de Ananindeua, realmente impressiona pela inovação da mistura. As pessoas ficaram visivelmente impressionadas com a performance do artista nessa faixa e em outras que também adotam essa fusão de gêneros.

A nova faixa foi produzida pelo DJ e produtor musical Proex estará no novo lançamento do artista que sairá ainda esse ano pelo Selo Uka Uka Records do produtor cultural Nicobates.

Por sua vez, Markinho ZN, com seus vinte e poucos anos, representa uma nova geração. A geração que desacelerou a batida e diversificou os temas antes ligados exclusivamente às mazelas sociais vividas pela população negra nas favelas do Brasil.

De fato há uma interconexão entre temas e ritmos desenvolvidos por esses dois artistas. Markinho fala ainda de certos problemas de superação, o que é uma visão tradicionalmente mais ligadas à velha escola do rap, mas sua batida desacelerada puxa o trap, que é o “novo” rap.  Black MC mantém as batidas rápidas do tecno melody e do rap antigo, mas ele fala como se fosse um astro, sem ressaltar suas mazelas. “Os caras treme, as gatas treme, os caras treme com o preto da CN”, ressalta a sua personalidade.

Mas Markinho é um artíficie da palavra. Com sua batida mais lenta ele esculpe as rimas com sofisticação. Na sua palestra que antecedeu os shows ele falou sobre seu processo de criação e deu dicas aos participantes para desenvolver as suas falas e rimas. “Leiam livros, consultem o dicionário quando vocês não souberem as palavras. Ou seja, adquira novos conceitos e conteúdo para poder rimar”, explicou.

Realmente, uma sifisticação muito grande. E no palco o garoto manda muito bem, também. Com precisão e elegância ele desfila pelo palco com suas rimas ricas e seu flow suave quase encantador. Uma estrela que há de brilhar muito ainda nesse cenário de Belém e do Brasil.

Um evento que contou com muitos aspectos inovadores da promoção cultural na cidade de Belém. Precisamos cada vez mais de projetos assim e de artistas com essa sensibilidade.

 

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