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Rapper do Barreiro leva primeiro lugar no Festival Outros Nativos
“Filho da Lua”, a canção vencedora, conta a trajetória de Moraes MV. “Pop do Confinamento”, do cantor estreante Olavo Mendes, e “O Catador”, da veterana banda de punk rock Baby Loyds, ficaram, respectivamente, em segundo e terceiro lugares
O Festival Outros Nativos consagrou o rap de Moraes MV, que foi campeão com a música “Filho da Lua”, tanto no voto do júri quanto no voto popular, levando os dois prêmios. Em segundo lugar ficou o “Pop do Confinamento”, de Olavo Mendes, que fala de maneira irreverente sobre o isolamento social provocado pela pandemia. Já o punk rock da Baby Loyds ficou em terceiro lugar com a música “O Catador”, parceria do baterista Gugu Zen com o saudoso cantor e compositor da banda, Gerson Costa.
“Filho da Lua” conta a trajetória do rapper do Barreiro, periferia de Belém, berço e lar de Sheriton Moraes Varela, o jovem que adotou o nome de Moraes MV. Acompanhado apenas de um DJ, o Donloco, que também faz parte da cena do bairro da Sacramenta e do rap da periferia de Belém, Sheriton chegou no estúdio com a desenvoltura de quem conhece o ofício do rap.
“Eu costumo parecer seguro, mas por dentro me sinto ansioso, era assim que tava no dia da entrevista e da gravação da final. Minha expectativa era conseguir pelo menos o 3º lugar, já que imaginava pelo menos outras duas bandas que já conhecia o trabalho no pódio”, revelou ele.
Sobre sua vitória tanto no voto do júri quanto no voto popular, Moraes disse: “Minha premiação no Festival Outros Nativos é uma conquista para além da competição e disputa com outras bandas. É uma vitória pessoal, mas também coletiva. Tem um aspecto simbólico que vai de encontro ao que a sociedade associa a um cara preto e morador do Barreiro. Aqui não vão encontrar nada relacionado a violência, apenas arte e informação. Espero que outras pessoas também se inspirem com as mesmas coisas”.
Já o “Pop do Confinamento” foi feito durante a pandemia, nas noites solitárias de Olavo Mendes, jovem professor de inglês e apaixonado por música pop que se atreveu a virar compositor. “Esse prêmio é muito importante para mim e tem muita simbologia. Foi a primeira música autoral que eu mostrei pro público, foi a primeira vez que me apresentei ao vivo com banda e foi o primeiro festival do qual eu participei”, explica.
Mas, para Olavo o mais importante é ter o reconhecimento dos jurados e do público. “Eu tenho muitas dúvidas sobre o meu trabalho. Como qualquer iniciante a gente fica receoso, sobre se deve fazer isso ou não. E o reconhecimento, seja do público seja de um júri qualificado como o do Festival, acaba te dando segurança para arriscar e seguir em frente. Aos poucos as coisas vão se afirmando”, disse ele.
A banda veterana Baby Loyds mostrou a força do rock no Festival, que teve ainda a banda Cout em quarto lugar. Para Gugu Zen, baterista e compositor da música, a premiação “veio bem a calhar”. O reconhecimento mesmo para uma banda veterana é muito importante em uma cena de fragilidade tão dispersa quanto a de Belém. “Para nós é uma celebração e uma homenagem que faço em particular ao nosso eterno vocalista Gerson Costa, que já se foi”, disse.
Gabriel Thomaz, fundador e líder da banda Autoramas, único jurado do Festival que não é da cidade de Belém, se disse muito satisfeito com o evento. “A qualidade dos participantes foi muito alta. Eu gostei de todos e de alguns em especial. Mas o mais legal é saber que o Pará continua revelando tantos e criativos talentos. Uma cena tão rica! A gente fica pouco tempo sem ter contato e quando volta a participar de um evento como esse, logo vê o quanto de coisa nova e vibrante existe! É maravilhoso!”, entusiasmou-se.
A cantora Gláfira, que está morando em Portugal, onde faz um mestrado em produção cultural, avaliou as performances pela internet. Para ela, o festival se reafirma a cada ano como o espaço da diversidade e do acesso democrático. “Chamou a atenção toda a diversidade presente no Festival. Rock, arrocha, brega, música gospel, boi bumbá, rap! Teve de tudo. Isso mostra que a periferia de Belém tem muita diversidade e muita qualidade. Foi ótimo conhecer tantos artistas bons”, frisou.
Os três primeiros lugares pelo júri e mais o voto popular levam prêmios em dinheiro que somam o total de R$ 3,5 mil, além de brindes ofertados pelos apoiadores do Festival, a loja de instrumentos ProMusic Belém e a gravadora Na Music. A segunda edição do Festival Outros Nativos teve patrocínio da Lei Aldir Blanc de apoio à classe artística durante a pandemia.